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Mirabeau Sampaio

SAMPAIO, Mirabeau (José Mirabeau Sampaio Salvador – Bahia, 18 de novembro de 1911 – Salvador – Bahia, janeiro de 1993). Retrato:   Principais especialidades: Médico, artista e colecionador   Dados biográficos: José Mirabeau Sampaio nasceu na cidade de Salvador em 18 de novembro de 1911 e formou-se em medicina em 1934 com apenas vinte e[...]

Referências
Bibliográficas:

AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. Rio de Janeiro: Record, 1996.

GUERRA, Guildo. Mirabeau Sampaio. In: A Noite dos Coronéis (Entrevistas). Salvador: Academia de Letras da Bahia, 2005, 364 p. il. v. 1

SANTOS, Jancileide Souza dos. Coleções, Colecionismo e Colecionadores: um estudo sobre o processo de legitimidade artística da produção de arte popular católica na Bahia entre as décadas de 1940 a 1960. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Artes Visuais, UFBA, Salvador, 2013. 221p. Il.

TAVARES, Odorico. Bahia. Imagens da terra e do povo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961. 298 p. il.

  
Catálogo:

Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia: Coleção Mirabeau Sampaio. Organização Odebrecht. Salvador: Museu de Arte Sacra, 2010. 76 p. il.

SAMPAIO, Mirabeau (José Mirabeau Sampaio Salvador – Bahia, 18 de novembro de 1911 – Salvador – Bahia, janeiro de 1993).

Retrato:
Mirabeau Sampaio no seu atelier Disponível em: http://liciafabio.com.br/os-100-anos-de-mirabeau-sampaio/

Mirabeau Sampaio no seu atelier
Disponível em: http://liciafabio.com.br/os-100-anos-de-mirabeau-sampaio/

 

Principais especialidades:

Médico, artista e colecionador

 

Dados biográficos:

José Mirabeau Sampaio nasceu na cidade de Salvador em 18 de novembro de 1911 e formou-se em medicina em 1934 com apenas vinte e dois anos de idade. O artista criou gados e passou uma parte de sua vida nas noites baianas da capital: era frequentador assíduo do Cassino Taboris, lugar que funcionava à noite no centro da cidade, onde havia dança, shows e jogos de todas as espécies. Foi professor de escultura da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e recebeu por suas esculturas dois prêmios; o primeiro em Salvador no ano de 1956 no Grande Salão Baiano (medalha de outro), e o segundo em 1959 no Salão Paulista de Arte Moderna (medalha de prata). O artista passou a colecionar imaginária católica durante as décadas de 1950 e 1960 e faleceu nessa capital em janeiro de 1993 (SANTOS, 2013, p. 161).

O gosto pelas artes surgiu ainda na adolescência por influência do seu padrinho que pintava e armava presépios, uma prática muito comum na cidade. A partir desse imaginário em torno das representações de Maria, Jesus, os anjos e santos que Mirabeau começou a criar o seu universo ligado à imaginária religiosa, começando pelos presépios para depois, como relata em suas entrevistas, fazer enfeites barrocos para as festas de Santo Antônio (SANTOS, 2013, p. 161-162).

Começou a produzir caricaturas dos professores da Faculdade de Medicina, o que despertou o seu interesse em fazer escultura, quando resolve entrar para a Escola de Belas Artes por volta de 1927. No entanto, a primeira fase do seu aprendizado das artes veio de fora da Academia, pois o artista largou cedo a Escola de Belas Artes por não querer passar quatro anos de sua vida realizando desenhos de figuras quase que exclusivamente, atividade comumente realizada no período. O regresso à Escola aconteceu quando o professor Mendonça Filho volta da Europa, e Mirabeau realiza cursos com ele e com o artista Alberto Valença, porém, como antes, também não permanece na instituição (SANTOS, 2013, p.162).

O Colecionador de Arte Sacra Católica

Por influência de Mário Cravo Junior Mirabeau Sampaio começa a fazer grandes esculturas, já que antes disso só fazia pequenas esculturas de cedro. É também nesse momento que Mirabeau começa a colecionar imagens de santos católicos, estimulado pela influência de Mário Cravo Jr e o seu gosto pelas formas das imaginárias sacras, eruditas e populares, a arte barroca, pela monumentalidade e dramaticidade das esculturas. Mirabeau afirma que a formação da sua coleção de santos não foi realizada por um interesse na tradição católica, mas pelo valor artístico que reconhecia nessas esculturas, o que demonstra mais uma vez o quanto inicialmente Mario Cravo Jr. exerceu forte influência na composição dessa coleção, haja vista que o artista estava também interessado na composição formal dessas imagens, e como os artistas dessa época, buscava apreender, através de um conhecimento dos objetos de arte popular, uma maneira de realizar novas formas artísticas (SANTOS, 2013, p.162-163).

De acordo com Maria Guimarães Sampaio, filha de Mirabeau, a coleção de santos do seu pai foi adquirida em Salvador nos anos de 1950 e 1960 nos antiquários da cidade e através de compras nas mãos de viajantes. Maria Sampaio cita três antiquários onde o pai comprava as imaginárias; dois deles localizados no centro da cidade e o outro na Cidade Baixa. O antiquário de David ficava situado no Campo Grande, era o que fixava os preços mais caros, no entanto, Mirabeau Sampaio frequentava mais o antiquário de Jorge Tarrap, situado na Rua Ruy Barbosa no centro da cidade. Maria descreve o antiquário de Tarrap como uma casa grande, com longos corredores e quartos cheios de móveis, onde havia uma profusão de santos em todos os tamanhos e qualidades, sendo que para reconhecer o valor de uma peça, no meio desse amontoado de objetos, era necessário ter um conhecimento das técnicas e dos materiais para descobrir valores artísticos peculiares. O antiquário do Carioca ficava na Cidade Baixa, no caminho de Itapagipe, onde se via também um grande número de móveis e uma variedade de objetos. Já o viajante Mamede, segundo Maria Sampaio, não tinha um ponto fixo de venda de objetos, e como era viajante, vivia carregando os seus embrulhos por todos os lugares que passava, e só mais tarde passaria a guardar seus objetos em um depósito chamado de Casa Stella no bairro do Barbalho devido a aquisição de mercadorias em proporções maiores. (SANTOS, 2013, p. 163-164).

Odorico Tavares descreve a coleção de Mirabeau Sampaio e mostra como o artista adquiria os objetos, segundo o jornalista a coleção:

A do sr. Mirabeau Sampaio, excelentes exemplares, na sua maioria, dos primeiros períodos. Não se entusiasma êle pelo período barroco e na sua coleção se reflete, sobretudo, o espírito rigorosamente brasileiro das imagens religiosas. Mais de um santo ou uma santa com feições grosseiras, quase de negros. Nossas senhoras com rosto de escravas, hieráticas, sem o movimento, sem o charme das imagens da época barrôca. Soube êle, como colecionador de categoria, escolher exemplares de primeira para sua coleção. Para quem como nós sabe das dificuldades de encontrar um santo de classe, de disputar com pessoas de mais haveres, pode calcular as agonias de um colecionador com o sr. Mirabeau Sampaio. Êle dá voltas, rodeios, mas finda conquistando o vendedor e levando a peça (TAVARES, Op. Cit., p. 289-290).

A coleção de imaginária sacra de Mirabeau Sampaio atualmente pertence a Organização Odebrecht, e foi cedida ao Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia por meio de comodato. A coleção foi formada nas décadas de 1950 e 1960 em Salvador através de compras, em sua maioria, nos antiquários aqui já citados, mas que também pode ter sido adquirida através dos santeiros que trabalhavam na cidade. A coleção de Mirabeau Sampaio, segundo Maria Sampaio, é composta de 463 peças, sendo que a coleção que está sob a guarda do Museu de Arte Sacra soma um total de 456 peças.

A maioria dos objetos da coleção é de imagens de pequeno porte, com características das imaginárias eruditas, isto é, imagens com mais elaboração na sua forma e onde pode ser visto um conhecimento mais apurado da técnica. As outras imagens têm como características a simplificação das formas e a desproporção anatômica, produzidas por artistas populares ou santeiros, artistas do povo que não frequentaram as escolas de arte, mas que faziam peças de incrível valor estético, além de possuírem muita criatividade artística (SANTOS, 2013, p. 172).

 

 

Referências
Bibliográficas:

AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. Rio de Janeiro: Record, 1996.

GUERRA, Guildo. Mirabeau Sampaio. In: A Noite dos Coronéis (Entrevistas). Salvador: Academia de Letras da Bahia, 2005, 364 p. il. v. 1

SANTOS, Jancileide Souza dos. Coleções, Colecionismo e Colecionadores: um estudo sobre o processo de legitimidade artística da produção de arte popular católica na Bahia entre as décadas de 1940 a 1960. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Artes Visuais, UFBA, Salvador, 2013. 221p. Il.

TAVARES, Odorico. Bahia. Imagens da terra e do povo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961. 298 p. il.

  
Catálogo:

Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia: Coleção Mirabeau Sampaio. Organização Odebrecht. Salvador: Museu de Arte Sacra, 2010. 76 p. il.
Autoria

Autores(as) do verbete:

Jancileide Souza dos Santos

D536

Dicionário Manuel Querino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014.

Acesso através de http: www.dicionario.belasartes.ufba.br
ISBN 978-85-8292-018-3

1. Artes – dicionário. 2. Manuel Querino. I. Freire, Luiz Alberto Ribeiro. II. Hernandez, Maria Hermínia Olivera. III. Universidade Federal da Bahia. III. Título

CDU 7.046.3(038)

 

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