Maria Célia Amado foi uma artista da primeira geração modernista e uma das introdutoras da abstração na Bahia. Sua atuação tanto no ensino na Escola de Belas Artes da Ufba, quanto na sua produção artística, ajudou a renovar o cenário artístico e educacional na Bahia. No ensino, introduziu a criação livre e os exercícios compositivos com materiais e técnicas modernas e inseriu pela primeira vez a utilização de colagem na Escola de Belas Artes, possivelmente as primeiras experiências com colagens para fins artísticos no Estado. Desenhista, pintora e artista gráfica, ganhou maior visibilidade em 1955, com uma pintura mural para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola Parque, em Salvador.
COELHO, Ceres Pisani. Artes plásticas: movimento moderno na Bahia. 1973. 223 f. Tese (concurso para professor Assistente) - Departamento I, EBA / Ufba. Salvador.
AMADO, Maria Célia. Desenho.... 1955. 96 p. il. Tese (concurso para docência livre da cadeira de Desenho de croquis da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia). EBA / Ufba. Salvador.
______. Mulheres em movimento. Salvador: Galeria Cañizares, Escola de Belas Artes da Ufba. 53 p. Catálogo da exposição coletiva realizada de 5 set. a 5 out. 2007a. Curadoria Márcia de Azevedo Magno Baptista.
LUDWIG, Selma Costa. Mudanças na vida cultural de Salvador 1950-70. 1982. 159 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais – História) – Ufba. Salvador.
MIDLEJ, Dilson. Juarez Paraiso: estruturação, abstração e expressão nos anos 1960. 2008. 200 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Belas Artes, Salvador.
______. O acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia. 2007-2008. Pesquisa para o Museu de Arte Moderna da Bahia. 60 f. Não publicado.
PARAISO, Juarez. Escola de belas artes da Ufba: segunda pesquisa 1991/1992. Salvador, [1992?]. 15 f. Não publicado.
PRIMEIRO Salão Bahiano de Belas Artes. Salvador: Secretaria de Educação e Saúde, 1949. 60 p. Catálogo. Realizado de 1 a 30 nov. 1949, no Hotel da Bahia.
SCALDAFERRI, Sante. Os primórdios da arte moderna na Bahia. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado; Funceb; MAM-BA, 1998. 182 p. (Casa de palavras. Memória, 2).
VIEIRA, José Geraldo. Maria Célia: pinturas. São Paulo: Galeria Sistina, 1961. Convite de exposição. Abertura em 3 ago. 1961. Arquivo do Museu de Arte Moderna da Bahia.
Arquivísticas:
AMADO, Maria Célia. Oficio endereçado à direção da Escola de Belas Artes. Salvador, 1 jun. 1945. Manuscrito. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes.
______. Oficio endereçado à direção da Escola de Belas Artes. Salvador, 12 jun. 1946. Manuscrito. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes.
______. Dossiê sobre a artista. Arquivo do Setor de Museologia do Museu de Arte Moderna da Bahia. Salvador, 2007b. Não paginado.
ATA DA SESSÃO DE CONGREGAÇÃO, 20 maio 1959. In: Livro de Atas da Congregação 1959 a 1965. f. 6. Salvador. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes.
LIVRO DE TERMOS DE EMPOSSAMENTOS DOS PROFESSORES NOMEADOS PELA CONGREGAÇÃO DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA BAHIA – 1924 a 1952. Salvador. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes. O Termo de empossamento de Maria Célia Amado como professora na EBA-UBA, ano de 1946 consta à f 60.
OFÍCIO expedido pela Escola de Belas Artes da Bahia. Salvador, 21 jun. 1946. 1 fl. Manuscrito em papel timbrado. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes. Envelope 95.
Depoimento:
MENDONÇA, Ana. Depoimento a Dilson Midlej. Salvador, 6 jun. 2007. Arquivo tipo som wav (.WAV), duração 10:40, tamanho 2.562KB.
Eletrônicas seguidas dos links:
ESCOLA PARQUE TERÁ MURAIS RESTAURADOS DEPOIS DE 45 ANOS. Publicação: 04 out. 2012, 16h42. Disponível em:< http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/escola-parque-tera-murais-restaurados-depois-de-45-anos>. Acesso em: 11 jan. 2014.
FOCUS ANTOLOGIA POÉTICA. In: Maria Célia Amado (memória póstuma) - Focus 2008. Disponível em:<http://focusantologiapoetica.blogspot.com.br/2010/03/maria-celia-amado-memoria-postuma-focus.html>. Acesso em: 11 jan. 2014.
ROCHA, Carlos Eduardo da. Beleza de Corpo e Alma. In: Maria Célia Amado (memória póstuma) - Focus 2008. Disponível em:<http://focusantologiapoetica.blogspot.com.br/2010/03/maria-celia-amado-memoria-postuma-focus.html>. Acesso em: 11 jan. 2014.
SIMÕES, Eliane Moniz de Aragão. Publicação eletrônica [mensagem pessoal] com o arquivo em Word Documento da exposição Traços do Modernismo no CECR – Escola Parque, na mensagem de título Ação na Escola Parque. Mensagem recebida por <dilsonmidlej@gmail.com> em 20 set. 2013.
Bibliografia sobre a artista:
MAGNAVITA, Pasqualino. Amigo, irmão, companheiro de ideais e de lutas. In: PARAISO, Juarez. Juarez Paraiso: desenhos e gravuras. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado: Copene, 2001. p. 99-110. (Casa de palavras, Desenhos, 5). Menciona a artista à p. 106.
PARAISO, Leda Santos. Juarez: formação acadêmica dedicação, conflitos e superação. In: PARAISO, Juarez. Juarez Paraiso: desenhos e gravuras. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado: Copene, 2001. p. 110-115. (Casa de palavras, Desenhos, 5).
VALLADARES, José. ABC (ou XYZ) da arte abstrata. In: ______. Dominicais: seleção de crônicas de arte de 1948-1950. Salvador: Caderno da Bahia, 1951. p. 43-46. Data original de publicação no Diário de Notícias: 5 set. 1948. Na p. 54, no artigo intitulado “Fenômenos”, de 26 set. 1948, faz uma breve citação a Maria Célia [Amado].
Maria Célia Amado Calmon Du Pin e Almeida (1921-1988).
Pintora, desenhista e designer têxtil.
Professora, muralista e poeta.
De família abastada, Maria Célia Amado (seu nome de solteira) nasceu em 2 de setembro de 1921 em Salvador, Bahia. Era filha do cacauicultor e banqueiro sergipano Gileno Amado, parente do escritor Jorge Amado, e de Aurélia Berbet Tavares Amado; morava em um casarão em Salvador, no bairro da Graça, em frente à igreja da Graça e era esposa do engenheiro João Augusto Calmon Du Pin e Almeida, com quem teve a única filha, Ana Amélia (MENDONÇA, 6 jun. 2007). Educou-se no Instituto Feminino, onde obteve o diploma de contadora (AMADO, 2007a, p. 11).
Bonita, elegante e inteligente, Maria Célia Amado cursou a Escola de Belas Artes da UFBA – EBA, diplomando-se em 1941 (AMADO, 2007a, p. 11), e foi aluna de Mendonça Filho. Após concluir o curso de pintura na Escola de Belas Artes da Bahia, passou 18 meses na Europa, tendo, na ocasião, realizado cursos de história geral da arte no Museu do Louvre e de estética e ciência da arte na Sorbonne (FOCUS…, 2008).
Posteriormente, ao fazer concurso para ensinar na Escola de Belas Artes de Salvador, Maria Célia Amado valeu-se em sua prova didática da utilização de projeção de slides, recurso tecnológico ainda desconhecido no ambiente da Escola. O engenheiro João Augusto Calmon du Pin e Almeida, então marido dela, foi quem manejou o projetor durante a aula (MENDONÇA, 6 jun. 2007). Seria naquela comunidade, como docente e também como artista, que ela teria uma destacada atuação na introdução das ideias modernistas (MIDLEJ, 2008, f. 45).
Maria Célia Amado foi contemporânea e colega de Mario Cravo Júnior. Ela não tinha, todavia, nem um currículo tão expressivo quanto o de seu colega, nem a reputação que este já gozava. Estes fatores terminaram por deixar passar despercebida sua contribuição ao desenvolvimento da arte moderna e, de igual maneira, da produção de arte abstrata na Bahia (MIDLEJ, 2008, f. 45). A adesão à linguagem abstracionista deu-se em meados dos anos 1950, segundo comprova uma pintura não figurativa datada de 1957, executada na França, onde a artista esteve entre 1956 e 1957, com uma bolsa de estudos fornecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes (AMADO, 2007b).
Admite-se que também reforçam a presença modernista em sua obra os desenhos figurativos que ilustram a tese de 1955 para o concurso à cátedra de Desenho de Croquis, os quais já refletiam características modernas de simplificação formal, de valorização de temas coloquiais e ênfase na expressão (MIDLEJ, 2008, f. 46).
Outra peça na linha abstrata dessa mesma artista é uma tela de 1959. Maria Célia Amado já vinha, 13 anos antes (desde cinco de junho de 1946, data de seu juramento e posse na cadeira de Desenho Figurado II), atuando como professora daquela disciplina no Curso Anexo da Escola de Belas Artes e, a partir de 21 de março de 1949, regendo Desenho Artístico – 1a cadeira, no curso de Arquitetura, que ainda funcionava na EBA (LIVRO…, 1924-1952, f. 60).
Em 1945 Maria Célia Amado teria pleiteado ao diretor Mendonça Filho inscrição para o concurso Prêmio Caminhoá (AMADO, 1945). O pedido foi indeferido — o motivo não é explicado na documentação existente — e, provavelmente como compensação, manifestou-se o desejo de compra de uma pintura dela para integrar a pinacoteca da Escola, a qual seria adquirida com verba oriunda do Legado Caminhoá do ano de 1944 (OFÍCIO…, 1946). Lisonjeada, Maria Célia Amado produziu a pintura No ateliê e, em 12 de junho de 1946, entregou-a para avaliação da comissão formada para decidir a compra (AMADO, 1946). Tratava-se de uma pintura figurativa, representando um modelo — uma mulher nua —, recostado em um sofá coberto por um pano listrado. Esta pintura integrou a exposição Mulheres em movimento, da Galeria Cañizares, em Salvador, aberta em 5 de setembro de 2007 e reproduzida à página 11 do catálogo da mostra. O ano de realização da pintura, todavia, consta erroneamente no catálogo como 1956 (ao invés de 1946) e seu título foi trocado por Mulher na colcha de retalhos, perdendo o trocadilho sugerido pelo título original No ateliê (“nu”, por ser uma mulher nua, e “no”, preposição que indica a modelo estar no espaço físico do ateliê).
O médico, escritor e crítico de artes plásticas do jornal Folha de São Paulo, José Geraldo Vieira (1897-1977), em texto de apresentação da exposição de pinturas de Maria Célia Amado na Galeria Sistina, em São Paulo, cuja abertura deu-se em 3 de agosto de 1961, refere-se à produção francesa da artista: “Sua fase francesa foi abstrata, de signos caligráficos em superfície dum cromatismo contrastado. Sua atual fase é informal, de tectônica vanguardista.” (VIEIRA, 1961, não paginado).
Em termos comparativos, a oposição cromática destaca-se nas duas pinturas. A de 1957, mais colorida e de tonalidades pulsantes, guarda forte relação com a luminosidade e vibração das cores tropicais brasileiras, influência que não passaria despercebida a alguém que residisse na Bahia, mesmo tendo sido a pintura realizada na França. A composição é dinâmica e a artista utiliza-se de massas cromáticas e de linhas para criar ritmos pulsantes e feéricos que forçam a movimentação do olhar para todos os cantos e superfícies da obra. O tratamento geral é de predomínio informal e os elementos plásticos, associados à vibração cromática, concentram e sugam a atenção do espectador. O olhar é bombardeado e direcionado para várias partes da superfície da tela pela ação das cores quentes e pelo dinamismo das diagonais. Prevalece, esteticamente falando, uma sensação dionisíaca de atordoamento e de prazer (MIDLEJ, 2008, f. 48).
Já a pintura de 1959, posterior à estadia da artista na Europa, vale-se da mesma estruturação dinâmica da composição anterior, apenas com o desenho reforçado com linhas e planos negros e, em termos colorísticos, com a paleta reduzida para pretos combinados ou mesclados com tons terrosos. Estes se apresentam com contornos mais regulares, evidenciados em formas retangulares e losangulares fechadas. Esse conjunto dinâmico é fortemente contrastado pela luminosidade avermelhada do fundo, cor possivelmente utilizada pela artista para prover um equilíbrio entre a dinamicidade do desenho (das linhas e formas mencionadas) e um fundo de certa luminosidade controlada (observe-se que foi providencial a não utilização de um tom mais luminoso de vermelho, o que criaria um contraste demasiadamente forte). A oposição entre as tonalidades de vermelho e alaranjado do fundo contrapõe e equilibra a força dinâmica do desenho. Comparada com a anterior, esta pintura é mais estruturada e menos fragmentada. Essas características percebidas nessas pinturas parecem referendar a capacidade magnética da personalidade da artista, conforme depoimentos de quem a conheceu (MIDLEJ, 2008, f. 48).
Conforme relato de Juarez Paraiso, que foi aluno de Maria Célia Amado em Desenho de croquis, ela aplicava uma pedagogia nada convencional naquela disciplina, tendo, inclusive, inserido pela primeira vez a utilização de collage (colagem) na Escola (PARAISO, [1992?], f. 11). Possivelmente, teriam sido aquelas as primeiras experiências com colagens para fins artísticos que só se observaram anos depois com a larga utilização desta técnica pelo artista e músico alemão Adam Firnekaes, que chegava à Bahia em 1958 (MIDLEJ, 2008, f. 49). Faz-se necessário lembrar que a colagem aparece com o cubismo, o que vai explicar sua valorização inicialmente por Maria Célia Amado, adepta dos ensinamentos cubistas, assim como de Adam Firnekaes, o qual utilizou a colagem largamente, tanto em suas produções, quanto no ensino de arte (MIDLEJ, 2008, f. 49).
Desenho de croquis, ainda segundo Juarez Paraiso, foi uma disciplina criada e inserida ao currículo da EBA pelo diretor Mendonça Filho especialmente para ser ministrada por Maria Célia Amado, sendo este um dos muitos exemplos da cooperação e da flexibilização que esse diretor lançava mão de forma a privilegiar a inclusão de talentos mais progressistas no corpo docente. Foi a partir de 1955 que ela passou à condição de docente livre da cadeira de Desenho de croquis, ocasião em que prestou concurso e redigiu a tese intitulada Desenho…, ilustrada por vários desenhos figurativos a pincel, em preto e branco, na forma de croquis, de sua autoria. Ela permaneceria nessa função até 20 de maio de 1959, data em que foi registrada na Ata da sessão de Congregação da EBA seu pedido de exoneração da regência de Desenho de croquis (ATA…, 20 maio 1959, f. 6). Não se descarta a possibilidade desse pedido ter ocorrido como consequência das pressões que a professora sofria dos professores acadêmicos menos progressistas. Pode-se deduzir isso a partir do cenário artístico da época, caracterizado por Ceres Pisani Coelho (1973, f. 6-7):
Somente na década de 50, artistas modernos foram admitidos como professores da EBAUFBa.; isso veio criar ou aumentar o antagonismo entre a tendência conservadora e a renovadora. A própria admissão de artistas modernos, como João José Rescala, Maria Célia Amado Calmon Du Pin e Almeida, Mário Cravo Júnior, Henrique Carlos Bicalho Oswald, Jacyra de Carvalho Oswald, provocou algumas transformações, embora não radicais. Novas idéias e processos de ensino foram adotados, com grande valor representativo para o movimento artístico baiano, pois não se pode negar que, embora parcialmente refratária as inovações, da Escola de Belas Artes tem saído e continua saindo a maior parte dos artistas baianos em diversas épocas (COELHO, 1973, f. 6-7).
Na mesma ata que registra o pedido de exoneração, consta a solicitação do prof. Albérico Fraga de que fosse oficializado aos professores que estavam deixando as cátedras os agradecimentos da Escola “pela eficiencia e dedicação à causa do ensino”. Abrahão Kosminsky passou a substituí-la. Maria Célia Amado mudou-se de Salvador e fixou residência em São Paulo (AMADO, 2007b, não paginado), onde abriu atelier particular e passou a ministrar cursos de desenho, de pintura e de estamparia em tecidos. No plano de vida pessoal casou-se pela segunda vez em São Paulo, mas não teve filhos nesta segunda experiência matrimonial.
Esse aspecto mencionado de Maria Célia Amado ser uma das introdutoras da arte moderna na Escola de Belas Artes é também reforçado por Sante Scaldaferri (1998, p. 61) e por Selma Costa Ludwig, que se referiu à artista com o nome Maria Célia Calmon: “O Setor de Desenho beneficiou-se com a chegada da professora Maria Célia Calmon, que introduziu a criação livre e os exercícios compositivos com materiais e técnicas modernas”, assim como “A professora Jacyra Oswald [que] apontava uma série de deficiências nas técnicas tradicionais de Desenho e procurava desenvolver a habilidade manual, a memória, a capacidade de organização do espaço e a imaginação criadora” (LUDWIG, 1982, f. 82-83).
Em 1949 ela participou do Primeiro Salão Bahiano de Belas Artes, em Salvador, integrando a Divisão de Arte Moderna com Ciranda, uma pintura em óleo sobre papelão, medindo 57 x 40 cm. O evento foi uma promoção da Secretaria de Educação e Saúde, ocorrido de 1 a 30 de novembro de 1949, no Hotel da Bahia. O catálogo grafava o nome dela como Maria Célia e apresentava como endereço “Avenida Presidente Vargas 14, Salvador” (PRIMEIRO…, 1949, p. 37).
Em 1950 ela realiza sua primeira exposição individual, no Anjo azul (COELHO, 1973, f. 24, nota 6), um bar-galeria localizado no Largo 2 de Julho, área central de Salvador, inaugurado em julho de 1949 pelo antiquário José de Souza Pedreira e que passou a ser um dos mais importantes pontos artísticos na Bahia. Seu interior foi decorado com afrescos do pintor Carlos Bastos, recém-chegado de uma permanência de dois anos de estudos nos Estados Unidos. Ali se reuniam poetas, escritores, jornalistas e artistas para discutir literatura e arte, bem como ocorreram importantes exposições de artistas locais e de outros estados, tais como mostras individuais de Lothar Charoux e Djanira, e coletivas com pinturas, desenhos e gravuras de Portinari, Pancetti, Inimá de Paula, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Mário Cravo Júnior, Liber Friedman e outros (COELHO, 1973, f. 24, nota 6).
Seguem-se outras na Galeria Oxumaré, no Museu de arte moderna da Bahia e, em 1955, em Recife. Em Paris, expõe na galeria Collete Allendy e em um Salão feminino (ambos em 1957) e, ao retornar ao Brasil, participa da 5a Bienal do Museu de arte moderna de São Paulo (depois denominada Bienal internacional de São Paulo), em 1959 (AMADO, 2007b, não paginado), edição em que houve uma grande representatividade de artistas da pintura informal — possivelmente foi por esta razão a inclusão dela —, certame do qual recebeu Menção honrosa (FOCUS…, 2008) e edição que destacou o então desconhecido Manabu Mabe ao receber o prêmio de pintura.
Em 3 de agosto de 1961, apresenta uma individual na Galeria Sistina, em São Paulo. Uma exposição de Maria Célia Amado com padronagens de silk-screen (serigrafia) em tecido foi aberta em 16 julho de 1963 no Museu de arte moderna da Bahia, amplamente noticiada por jornais de Salvador. Ela, nessa ocasião, já residia em São Paulo e curiosamente assinava as padronagens como Thiru, forma carinhosa como chamava a filha Ana Amélia.
Um dos trabalhos que possibilitou maior visibilidade à artista se deu com a pintura do mural para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (COELHO, 1973, f. 19) – Escola Parque, no bairro da Caixa d’Água, em Salvador, em 1955, de título O ofício do homem. Tratava-se de um óleo sobre madeira, medindo 2,79 m de altura por 10,20 m de largura, localizado no Pavilhão de Artes Industriais, hall da secretaria, no setor de trabalho da Escola Parque (ESCOLA… 04 out. 2012). Aquele complexo congregava murais e painéis de outros representantes da primeira geração modernista da Bahia: Mario Cravo Júnior (uma escultura de 1950 e um mural para a Escola-Classe III e outro mural de 1955), Carlos Bastos (pintura de 1949 na Escola-Classe I), Jenner Augusto, Carybé (um painel de 1950 para a Escola-Classe II e um mural de 1954), alguns painéis de azulejos desenhados por Udo Knoff, localizados na entrada do complexo e no hall do Setor Artístico, e um mural do paulista Carlos Magano (execução de 1953 a 1954) (SIMÕES, 20 set. 2013).
Ao ser convidado a escrever uma apresentação para a publicação póstuma da obra completa em poesia de Maria Célia Amado, o professor, poeta e crítico de arte Carlos Eduardo da Rocha redigiu em fevereiro de 1998 o texto Beleza de corpo e alma e destacou a contagiante simpatia pessoal da artista e o prestigio angariado nos seus contatos pessoais:
Na luxuosa residência da Avenida Princesa Isabel, do seu ilustre pai, o banqueiro Gileno Amado, chegavam até ela personalidades de fama internacional como Jacques Fath, Jean-Louis Barrault, Madelaine Rosay, Henri Georges Clouzot, marido da sua famosa prima Vera Clouzot, atriz principal do grande filme “Le salaire de la peur”, que também disputava com ela o prestígio dos admiradores.
A grande pintora também se afirmava com extraordinário merecimento como professora de tantos alunos, que recebiam não só as suas lições, mas também as influências da sua obra de pintura, da paisagista e retratista de grande interesse, como se vê no retrato de Gizela, bem como muralista, como se afirmou com o painel realizado no Conjunto de Escolas Carneiro Ribeiro, destacado pelo crítico Wilson Rocha em “Notas breves e atuais sobre as artes plásticas na Bahia” (ROCHA, 2008, não paginado).
E em relação à produção dela como poeta, comentou:
Para falar da poesia de Maria Célia, quero destacar o extenso pensamento lírico, em suas várias nuances, uma panteísta em seus transes de amor humano e também uma mística diante da natureza.
Notável na poesia de Maria Célia Amado é a permanência e domínio do seu espaço plástico de pintora na realização da poesia.Seus pequenos poemas são construídos para ser lidos e vistos, como se fossem também massas e composições gráficas.
Como uma pincelada, como um pequeno quadro, o poema está pronto e terminado com maestria [...] (ROCHA, 2008, não paginado).
COELHO, Ceres Pisani. Artes plásticas: movimento moderno na Bahia. 1973. 223 f. Tese (concurso para professor Assistente) - Departamento I, EBA / Ufba. Salvador.
AMADO, Maria Célia. Desenho.... 1955. 96 p. il. Tese (concurso para docência livre da cadeira de Desenho de croquis da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia). EBA / Ufba. Salvador.
______. Mulheres em movimento. Salvador: Galeria Cañizares, Escola de Belas Artes da Ufba. 53 p. Catálogo da exposição coletiva realizada de 5 set. a 5 out. 2007a. Curadoria Márcia de Azevedo Magno Baptista.
LUDWIG, Selma Costa. Mudanças na vida cultural de Salvador 1950-70. 1982. 159 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais – História) – Ufba. Salvador.
MIDLEJ, Dilson. Juarez Paraiso: estruturação, abstração e expressão nos anos 1960. 2008. 200 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Belas Artes, Salvador.
______. O acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia. 2007-2008. Pesquisa para o Museu de Arte Moderna da Bahia. 60 f. Não publicado.
PARAISO, Juarez. Escola de belas artes da Ufba: segunda pesquisa 1991/1992. Salvador, [1992?]. 15 f. Não publicado.
PRIMEIRO Salão Bahiano de Belas Artes. Salvador: Secretaria de Educação e Saúde, 1949. 60 p. Catálogo. Realizado de 1 a 30 nov. 1949, no Hotel da Bahia.
SCALDAFERRI, Sante. Os primórdios da arte moderna na Bahia. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado; Funceb; MAM-BA, 1998. 182 p. (Casa de palavras. Memória, 2).
VIEIRA, José Geraldo. Maria Célia: pinturas. São Paulo: Galeria Sistina, 1961. Convite de exposição. Abertura em 3 ago. 1961. Arquivo do Museu de Arte Moderna da Bahia.
Arquivísticas:
AMADO, Maria Célia. Oficio endereçado à direção da Escola de Belas Artes. Salvador, 1 jun. 1945. Manuscrito. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes.
______. Oficio endereçado à direção da Escola de Belas Artes. Salvador, 12 jun. 1946. Manuscrito. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes.
______. Dossiê sobre a artista. Arquivo do Setor de Museologia do Museu de Arte Moderna da Bahia. Salvador, 2007b. Não paginado.
ATA DA SESSÃO DE CONGREGAÇÃO, 20 maio 1959. In: Livro de Atas da Congregação 1959 a 1965. f. 6. Salvador. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes.
LIVRO DE TERMOS DE EMPOSSAMENTOS DOS PROFESSORES NOMEADOS PELA CONGREGAÇÃO DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA BAHIA – 1924 a 1952. Salvador. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes. O Termo de empossamento de Maria Célia Amado como professora na EBA-UBA, ano de 1946 consta à f 60.
OFÍCIO expedido pela Escola de Belas Artes da Bahia. Salvador, 21 jun. 1946. 1 fl. Manuscrito em papel timbrado. Arquivo Histórico da Escola de Belas Artes. Envelope 95.
Depoimento:
MENDONÇA, Ana. Depoimento a Dilson Midlej. Salvador, 6 jun. 2007. Arquivo tipo som wav (.WAV), duração 10:40, tamanho 2.562KB.
Eletrônicas seguidas dos links:
ESCOLA PARQUE TERÁ MURAIS RESTAURADOS DEPOIS DE 45 ANOS. Publicação: 04 out. 2012, 16h42. Disponível em:< http://www.ipac.ba.gov.br/noticias/escola-parque-tera-murais-restaurados-depois-de-45-anos>. Acesso em: 11 jan. 2014.
FOCUS ANTOLOGIA POÉTICA. In: Maria Célia Amado (memória póstuma) - Focus 2008. Disponível em:<http://focusantologiapoetica.blogspot.com.br/2010/03/maria-celia-amado-memoria-postuma-focus.html>. Acesso em: 11 jan. 2014.
ROCHA, Carlos Eduardo da. Beleza de Corpo e Alma. In: Maria Célia Amado (memória póstuma) - Focus 2008. Disponível em:<http://focusantologiapoetica.blogspot.com.br/2010/03/maria-celia-amado-memoria-postuma-focus.html>. Acesso em: 11 jan. 2014.
SIMÕES, Eliane Moniz de Aragão. Publicação eletrônica [mensagem pessoal] com o arquivo em Word Documento da exposição Traços do Modernismo no CECR – Escola Parque, na mensagem de título Ação na Escola Parque. Mensagem recebida por <dilsonmidlej@gmail.com> em 20 set. 2013.
Bibliografia sobre a artista:
MAGNAVITA, Pasqualino. Amigo, irmão, companheiro de ideais e de lutas. In: PARAISO, Juarez. Juarez Paraiso: desenhos e gravuras. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado: Copene, 2001. p. 99-110. (Casa de palavras, Desenhos, 5). Menciona a artista à p. 106.
PARAISO, Leda Santos. Juarez: formação acadêmica dedicação, conflitos e superação. In: PARAISO, Juarez. Juarez Paraiso: desenhos e gravuras. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado: Copene, 2001. p. 110-115. (Casa de palavras, Desenhos, 5).
VALLADARES, José. ABC (ou XYZ) da arte abstrata. In: ______. Dominicais: seleção de crônicas de arte de 1948-1950. Salvador: Caderno da Bahia, 1951. p. 43-46. Data original de publicação no Diário de Notícias: 5 set. 1948. Na p. 54, no artigo intitulado “Fenômenos”, de 26 set. 1948, faz uma breve citação a Maria Célia [Amado].
Autores(as) do verbete:
D536
Dicionário Manuel Querino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014.
Acesso através de http: www.dicionario.belasartes.ufba.br
ISBN 978-85-8292-018-3
1. Artes – dicionário. 2. Manuel Querino. I. Freire, Luiz Alberto Ribeiro. II. Hernandez, Maria Hermínia Olivera. III. Universidade Federal da Bahia. III. Título
CDU 7.046.3(038)
Olá, tem dois quadros na sala da minha sogra que sempre achei lindos, mas olhando a assinatura nos demos conta que são desta pintora (comparamos a assinatura com a de um quadro da internet). Gostaríamos de mais informações sobre ele.. os dois estão com datas de 1955.
As informações que dispomos da artista são as que constam aqui, neste verbete. Não temos condições de lhe prestar informações sobre os dois quadros que você menciona, já que isso implicaria em desenvolvimento de pesquisa específica para tal finalidade, e não é isto a que nos propomos a fazer. De qualquer maneira, caso queira compartilhar as imagens dos quadros, poderá encaminhá-las para nosso e-mail dicionariomanuelquerino@gmail.com
Quem sabe se no futuro não poderíamos inseri-las na cronologia de obras da artista? Isso não significa, contudo, que estejamos assumindo qualquer compromisso.