Artista plástica baiana, cuja formação se deu sob a orientação do gravador Hansen Bahia. Em Cachoeira (BA), organizou cursos, oficinas e festivais. Contribuiu para a implantação da Fundação Hansen Bahia em Cachoeira e São Félix, e foi a sua primeira diretora executiva. Teve papel na formação artísticas de jovens do Recôncavo baiano.
A TARDE. Festival de Inverno de Cachoeira. 17 abr. 1976.
A TARDE. Festival de Inverno de Cachoeira, marco da Cultura brasileira. Salvador, 7 ago. 1976.
JORNAL DA BAHIA. Cachoeira. Gravadora agradece ao JBa ajuda em prol da cultura. Salvador, 6 dez. 1976.
BARBOSA, Alexandre Marcos Lourenço. Contando a Arte de Gilberto Gomes. São Paulo: Nova América, 2006.
BRAGG, Marccelus. Evandro de Castro Lima. Disponível em: https://marccelus.com/evandro-de-castro-lima/ Acesso em 01 jun. 2024.
BRITO, Reynivaldo. Artes Visuais A Tarde, 23 mar. 1993.
JORNAL DA BAHIA. I Festival de Inverno reunirá em julho próximo. Salvador, 18 mar. 1975.
JORNAL DA BAHIA. Mostra Feminina no TCA proverá vitalidade das artes plásticas baianas. Salvador, 26 mai. 1969.
JORNAL UNIVERSITÁRIO. Maio movimenta meios artísticos com duas exposições. Salvador, 15 mai. 1969. Vol. II, n. 10.
LARANJEIRA, Antonio José. Festivais. A Tarde. Salvador, 22 mai. 1977.
LIMA, Hanayana Brandão Guimarães Fontes. Instituto Cultural Brasil Alemanha e sua produção simbólica na Bahia: pontos de partida. Trabalho apresentado no XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura - XV ENECULT. Salvador, 2019. Disponível em: http://www.xvenecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-484/112299.pdf
PARAÍSO, Juarez. A Gravura na Bahia. Cultura Visual. Salvador, EBA - UFBA, v. 1, n. 1, p. 09-17, jan./jul. 1998.PINTO, Noelice Nascimento Costa Pinto. Álbum de Xilogravuras. Série Damas da Noite. Salvador, BA: Ateliê Aguiar Costa Pinto, 2019. (Exemplar n.º 042)
PINTO, José Mário Peixoto Costa (Org.). Árvore Genealógica de História: Dois Salvador, BA: Atelier Aguiar Costa Pinto, 2022.
UFBA. Jornal Universitário. Maio movimenta meios artísticos com duas exposições. V. II, n. 10. Salvador, 15 mai. 1969.
Arquivísticas:
ÁLBUM de Xilogravuras de Noelice Costa Pinto. Série Damas da Noite. Salvador, BA: Ateliê Aguiar Costa, 2019.
Carta de Noelice Costa Pinto ao Presidente da República da Alemanha Horst Kohle, via Embaixador da República da Alemanha Prot Von Kunw. Salvador, 18 jun. 2009.
FUNDAÇÃO HANSEN BAHIA. Álbum. Ilse e Hansen-Bahia. Novos Trabalhos. 1973.
Ofício n, 11/84, de Noelice Costa Pinto, Diretora Executiva da Fundação Hansen Bahia à Câmaras de Artes e Patrimônio. Cachoeira, 8 fev. 1984.
Ofício n.61/87, do Prefeito Municipal da Cachoeira a Diretora da Fundação Hansen Bahia. Cachoeira, 22 abr. 1987.
Ofício n. 333/86, do Deputado Fernando Sant'Anna ao Ministro da Cultura Celso Furtado. Brasília 29 mai. 1986.
Depoimentos:
Conversa com Davi Rodrigues em 26 nov. 2024.
Conversas com José Mário Costa Pinto entre 2023 e 2024.
Eletrônicas seguidas dos links:
DAVI RODRIGUES. Dicionário Manuel Querino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/davi-rodrigues-casaes/ Acesso em 18 nov. 2024.
Bibliografia de Noelice
Livros e catálogos:
ÁLBUM de Xilogravuras de Noelice Costa Pinto. Série Damas da Noite. Salvador, BA: Ateliê Aguiar Costa, 2019.
Arquivísticas:
Fotografias de recortes de jornal e documentos cedidos por José Mário Peixoto Costa Pinto (acervo pessoal) a Suzane Pinho Pêpe.
Periódicos:
Matérias no Jornal Tribuna da Bahia publicadas ao longo entre os anos 1980 e 1990, ao longo de nove anos.
(Noelice Nascimento Costa Pinto. Salvador, 25 de setembro de 1937)
1967 – Curso Livre de Xilogravura, ministrado por Hansen Bahia, no Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA).
1967 – 1971 – Curso Livre de Gravura, ministrado por Hansen Bahia, na Escola de Belas Artes – UFBA.
1969 – Curso Livre de Pintura Escola de Belas Artes – UFBA, ministrado por Oscar Caetano da Silva
? Curso de História da Arte e História da Música, no Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA).
A partir de 1967.
Xilogravura
Pintura, Gestão de espaços culturais e Curadoria.
Noelice Nascimento da Costa Pinto nasceu em Salvador, Bahia, em 25 de setembro de 1937. Filha de Olga Nascimento, natural de Amargosa de Antônio Nascimento, nascido em São Félix, BA. Sua mãe era dona de casa, e seu pai, comerciante de roupas.
Noelice fez seus estudos no Colégio Ypiranga, na rua do Sodré n. 43, em Salvador, quando ainda era particular. Fundado em 1904, “o Ypiranga”, como era chamado coloquialmente, foi estadualizado na década de 1980. Funcionou na Vitória, depois foi transferido para o solar do século XVIII, mandado construir por Jerônimo Sodré Pereira. Aí também foi residência de Antônio José Alves, pai do poeta Castro Alves; em 1938, o prédio foi tombado pelo IPHAN.
Muita laboração estética foi proporcionada no próprio ambiente familiar, pois Noelice era estimulada à culinária, à puericultura e, sobretudo à “alta costura”. Neste caso, influenciada por sua tia Lindaura, que se dedicava profissionalmente a costurar vestidos de noiva e de baile (Conversa com José Mário Costa Pinto, 10 mai. 2024). Durante algumas décadas, esse campo teve grande repercussão sobre as pessoas da alta sociedade que influenciavam também a classe média, lembrando que funcionavam várias lojas com grande variedade de tecidos e as roupas eram confeccionadas pelas próprias mulheres, ou por costureiras de ofício, que podiam contar com revistas de moda com fotografias e moldes para corte e costura, além da possibilidade de criar e adaptação de modelos às necessidades da clientela. Entre os estilistas de renome dos anos 1960, estava Evandro de Castro Lima, de família tradicional baiana, também bailarino e carnavalesco, vencedor de duas dezenas de concursos de fantasia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Noelice fez cursos de História da Arte e de História da Música, estudou Japonês com o professor Toychiro Kobaichi, no Centro de Estudos Afro-Orientais (UFBA) entre 1962 e 1964, estudou Francês e Espanhol, o que facilitaria a leitura e a comunicação em viagens ao exterior. (Conversa com J. Mário Costa Pinto, 10 mai. 2024). A sua determinação e estímulos de seu noivo a levaram a se inserir no mundo do trabalho formal. Em 1964, foi nomeada servidora pública concursada, para trabalhar na Universidade Federal da Bahia. No mesmo ano, casou-se com José Mário da Costa Pinto; têm três filhos, quatro netas e quatro netos.
No Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), no ano de 1967, Noelice Costa Pinto fez curso de Xilogravura com Karl Heinz Hansen (1915-1978) – Hansen Bahia. Na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, Noelice deu continuidade à sua formação estudando Gravura entre 1967 e 1971, com o mesmo gravador. Na pintura, ela começou em 1969, participando do Curso Livre de Pintura Escola de Belas Artes – UFBA, ministrados por Oscar Caetano da Silva (1902 – 1987) e por João José Rescala (1910 – 1986) (Conversa com J. Mário Costa Pinto, 10 mai. 2024)
Noelice e José Mário frequentaram a casa de Hansen e Ilse no Jardim Gantois (atual bairro de Patamares) aos sábados, para fazer xilogravura. Segundo José Mário: “lse compartilhava técnicas a nós de ‘pintura bizantina’, feita com folha de ouro e prata, que sua mãe D. Ursula mandava de Roma”
Como artista, Noelice emergiu na segunda metade dos anos 1960, na cidade do Salvador, continuando a romper com limites de gênero impostos pela sociedade, processo iniciado nos anos 1950 no tangente a artistas que se identificavam com a arte moderna.Seu contato com o campo das Artes Plásticas se deu a partir em cursos ministrados pelo gravador Hansen Bahia, cuja obra tem a marca do expressionismo, o que influiu sobre a gravura que produzirá.
Ainda em 1969, participou da I Exposição Feminina de Artes Plásticas que aconteceu no foyer do Teatro Castro Alves entre 17 e 28 de maio, idealizada por Valentin Calderon, diretor do Departamento Cultural da Reitoria de UFBA. (Jornal da Bahia, 26 mai. 1969). Além de Noelice, enviaram trabalhos para essa mostra, segundo matéria publicada no Jornal Universitário de 15 mai. 1969: Ana Georgina Cardoso, Ana Maria Dorea, Ana Pinto, Antonieta Gedeon, Célia Martins de Azevedo, Cristina Gedeon, Dagmar Pondé, Dalva Santiago, Elizabeth Luzia Robato, Haydée Pereira, Ilse, Isacéa Solange Morais, Lisete Matos Ventura, Luziades Duarte Belfort, Lygia Milton, Maria Emília Brandão, Maria Tereza Francisca Pimenta, Marlene Alves Cardoso, Mercedes Kruschewsky, Noélia de Paula, Norma Couto, Odete Valente, Solange Gusmão, Sonia Sacramento, Tânia Vita e Vera Lima.
Nas suas gravuras, Noelice empregou o encave, a fim de produzir o alto contraste nas impressões; texturas, com goivas, o buril entre outras ferramentas, assim como fez usos de rendas coladas sobre as placas, o que confere efeitos muito originais a seu trabalho. A Bahia viveu de fato seu melhor período na xilogravura nos anos 1960, de acordo com Paraíso (1998, p. 9), mas já era empregada desde o surgimento da arte moderna. Na EBA, ela ganhou espaço nos anos 1950.
A presença do gravador Hansen na Bahia foi muito importante para a Bahia. Ele partilhou com os modernistas locais o gosto por representar a “gente da terra”, assim como trabalhou temas religiosos entre outros. Foi o primeiro nesse meio artístico a se dedicar inteiramente à gravura em madeira na Bahia (PARAÍSO, 1998, p. 13). Muitos de seus trabalhos trazem a espontaneidade do cordel e a força do expressionismo. Hansen ilustrou temas míticos, religiosos e literários, cenas da vida cotidiana baiana.
Noelice sofreu influência estilística e temática de Hansen, sobretudo, na representação do corpo feminino, sensualizado e erotizado, o que divide paixões e precisa ser enfrentado pelos historiadores que abordam o erotismo na arte. A nossa impressão, no caso de muitas obras de Noelice, é que ela absorve, via obra de Hansen a maneira de representar a sensualidade do corpo feminino, possivelmente também influenciada pela literatura de Jorge Amado. Parece-nos que essas representações eram como uma forma de confrontação contra os valores da tradicional sociedade baiana. Sobre Hansen Bahia, nossa hipótese é que seu olhar sobre o Pelourinho tenha tido um sentido etnográfico, uma vez que sua obra demonstra uma necessidade de mostrar uma realidade de prostituição.
Tanto a produção artística de Hansen Bahia, quanto a de Noelice Costa Pinto devem ser analisadas no contexto em que o imaginário brasileiro atribuiu às mulheres mestiças uma sensualidade identificada como símbolo nacional e regional. Falar dessas imagens é uma oportunidade para refletir o pensamento daquela época, bastante questionado na atualidade, o que não desfaz o valor estético da obra desses artistas e de outros.
Além do fazer artístico, a vida de Noelice foi dinamizada quando uma parceria entre o Ministério de Educação e Cultura, e a Prefeitura Municipal da Cachoeira (gestão de Edson Ivo Santana), com apoio da Funarte, tornou possível a viabilização do Projeto de Desenvolvimento de Cachoeira – Prodesca (1976), na prática um Programa do qual fazia parte o Projeto Cachoeira, coordenado pelos Professores Fernando Fonseca e Ivo Vellame, localmente, por Noelice Costa Pinto, conforme Projeto Cachoeira, UFBA e Prefeitura Municipal da Cachoeira (1976). Desse modo, entre meados dos anos 1970 e primeiros anos da década de 1980, ela assessorou a Prefeitura da Cachoeira, na área cultural, o que muito contribuiu para dinamizar as artes, sobretudo, ao organizar eventos e cursos de desenho, pintura e gravura, ministrados por professores e artistas plásticos, a exemplo de Ailton Lima, João José Rescala, Carybé, Hansen Bahia, Ilse Hansen, Calasans Neto e Sante Scaldaferri. Foi também oferecido curso de fotografia, ministrado por Carlos Alberto Gaudenzi, e de noções de cinema, por José Mário Costa Pinto .
Destacaram-se na cena artística baiana, os festivais de arte que aconteceram em Cachoeira nos anos de 1976 e 1977, sob a “liderança maior” de Noelice Costa Pinto, que trabalhou ao lado de outras pessoas entusiasmadas com o evento (LARANJEIRA, 1977).
Foi surpreendente a diversidade de linguagens artísticas apresentadas nesses eventos, como demonstram matérias de divulgação, a exemplo de “Festival de Inverno da Cachoeira”, que anuncia o regulamento do evento em sua primeira edição, patrocinado pelo Governo do Estado, pela Secretaria de Educação, Fundação Cultural, Bahiatursa e Prefeitura Municipal da Cachoeira Iniciando em 3 de julho próximo de 1976, com a Exposição de Artes Plásticas e Desfile de Bandas, seguidos de Exposição de Artesanato, IV Salão Baiano de Fotografia Contemporânea, Festival de Música Popular, II Mostra Baiana de Fotografia Contemporânea e II Mostra Baiana de Super “8” e encerramento previsto para dia 31 do mesmo mês, com entrega dos prêmios aos vencedores de cada modalidade (A Tarde, 17 abr. 1976).
Conforme Edson Ivo de Santana, na época, Prefeito de Cachoeira, sobre Noelice: “A sua atuação se fez marcante nos cursos de Artes Plásticas e outros orientados do nosso primeiro convênio, com a Funarte/ MEC.”. Também no segundo no segundo convênio com a Funarte/ MEC para o I Festival de Inverno (NOELICE, ÁLBUM, 2019).
Os I e II Festivais de Inverno da Cachoeira permitiram o intercâmbio artístico, devido à participação de artistas tanto fora, quanto locais, como Louco (Boaventura da Silva Filho) e Bolão (Valdemir Cardoso do Nascimento), colocando em evidência no campo das artes fora da capital. O entusiasmo das pessoas da cidade que se lembram desse evento, entre artistas, intelectuais entre outras é notório (PÊPE, 2015).
Antes mesmo desses eventos, em 1975, Noelice e José Mário tiveram a iniciativa de fundar uma galeria de arte em Cachoeira, que funcionou no piso térreo do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), mediante termo de comodato com o Governo do Estado. O espaço cultural recebeu o nome Galeria de Arte Amanda Costa Pinto em homenagem à musicista baiana nascida ainda no século XIX.
Segundo Dorival Ferreira da Silva, em texto que nos foi cedido pela família, Amanda foi uma cantora lírica reconhecida pela crítica de sua época; ela fez concertos no Brasil e em países da Europa e América do Norte. Na Bahia, dedicou-se ao ensino da música ao longo de 25 anos, e organizou concertos de música, trazendo artistas de fora. Para o casal fundador da galeria, a figura de Amanda era inspiradora e deveria ser homenageada.
A primeira exposição que ocorreu no espaço da Galeria foi de Noelice e José Mário Costa Pinto em 31 de janeiro de 1975. Sobre essa exposição, Antonio Loureiro de Souza escreveu acerca dela.
Noelice com os seus quadros onde se reflete o casario coloquial da tradicional cidade [Cachoeira]. Aqui uma rua; ali um velho sobradão que abrigou, quem sabe?, uma nobre família, florão da aristocracia rural, que, como outras ali se fixou numa época em que florescia a civilização açucareira, adiante uma praça, a mesma praça onde, em 1824 os cachoeiranos num justo sentimento cívico lutaram, derramando sangue em defesa da nossa emancipação política, em outra tela, a representação de uma capela, a da “Ajuda”, de simples, mas admirável esplendor revivescência da arquitetura portuguesa, lembrando as de Setúbal em Portugal com o seu alpendrado e a sua minúscula torre onde um pequenino sino chama fiéis para celebrações litúrgicas. Enfim, a Cachoeira reproduziria com arte e com amor (Recorte de Jornal [1975] cedido pela família).
Entre 1975 e 1977, a Galeria Amanda Costa Pinto organizou várias mostras, tendo expostos trabalhos de artistas de Cachoeira como Nayson Reis, Bolão, Louco, Ivan Oliveira, Dante Lamartine, e de fora, a exemplo de Calazãs Neto, Carlos Bastos, Emanoel Araújo, Graça Ramos, Humberto Vellame, Jamison Pedra, Terezinha Dumet, Vera Lima, João José Rescala, Guache.
Noelice e José Mário tinham seu ateliê no distrito de Belém da Cachoeira. No ano de 1979, ela organizou uma exposição coletiva na Igreja do Antigo Seminário de Belém da Cachoeira, única estrutura remanescente do conjunto arquitetônico colonial (século XVII) dedicado à Nossa Senhora de Belém; tombado pelo IPHAN em 1938.
Nas palavras de José Mário sobre a exposição na Igreja de Belém:
Pela primeira vez na história desse Convento outrora centro de ensino, crianças da roça, da Vila de Belém, misturadas com: Rescala, Ivo Vellame, Carlos Bastos, Ailton Lima, Gilberto Gomes, Noelice, Ana Maria Leite, Kruchevisky (Diretora de Belas Artes), Ilse Hansen, Cincinho e Dante Lamartine (artistas de Cachoeira), Emanuel Araújo, Juarez Paraíso, Oscar Caetano da Silva, Kennedy (chileno) tapeceiro, Carybé. Tinha trabalho de Genaro de Carvalho emprestado e eu participei com fotografias. A exposição foi aberta com as bandas de Cachoeira, o Prefeito, Fernando Fonseca (em nome do Reitor da UFBA) etc. Um detalhe: residimos em Belém durante minha estadia como juiz no interior (Conversa gravada em 20 nov. 2024).
Diversas amizades se criam no meio artístico, assim destacamos que Celestino Gama da Silva (Louco Filho) se reporta a Noelice e José Mário como apreciadores e incentivadores da arte. Também estiveram próximos dos pintores Cincinho, conhecido por seu trabalho a lápis de cera, e Dante Lamartine que registrou o patrimônio da cidade.
Dos que foram para Cachoeira, há um fato interessante: Gilberto Gomes (1955-2016), paulista, cuja família morava em Santo Amaro da Purificação (Bahia), preferiu Cachoeira devido à movimentação no campo das artes plásticas pelas quais optou após expor na Galeria Amanda Costa Pinto em 1975 e 1977.
Alguns comentários falam da contribuição de Noelice Costa Pinto, como o de Ivo Vellame, que era professor de História da Arte da EBA (UFBA): “Além de artista plástica de grande força, a gravadora Noelice tem se preocupado em divulgar as Artes Plásticas no Recôncavo Baiano. Faz parte dos novos gravadores da Bahia – daqueles que pretendem renovar a Xilogravura em nosso meio. Sua gravura, emotivamente equilibrada, agrada pelo apurado domínio técnico e pelo tratamento ousado das figuras”.
O historiador e professor José Luiz Pazin (1981) ressaltou o equilíbrio das formas, a técnica e o cuidado na apresentação dos trabalhos. Segundo ele, uma gravura se impõe pela “plasticidade” e “coerência no detalhe”, o que Noelice da Costa Pinto oferece ao observador.
Em 1975, Noelice Costa Pinto expôs em Salvador, na Galeria Cañizares, da Escola de Belas Artes (UFBA), telas e gravuras, apreciados por mestres amigos, artistas e pelo público visitante. Estiveram presentes na exposição o crítico de arte Wilson Rocha, o professor Fernandes Fonseca, o professor Edvaldo Carneiro, representando o Prefeito da cidade. Em nota de jornal, é mencionado que ela vendeu todos os trabalhos expostos. Em 1982, participou de coletiva na mesma Galeria.
Em paralelo a esses acontecimentos está a participação de Noelice Costa Pinto na Fundação Hansen Bahia, pois ela e José Mário estiveram ao lado dos amigos Hansen e Ilse.
Em 1975, o gravador Karl Heinz Hansen e sua esposa Ilse Carolina Stromaier haviam comprado a Fazenda Santa Bárbara, Antiga Chácara Casa Branca, em São Félix, que foi reconstruída para morar e ser seu ateliê. Hansen decidiu doar seu acervo à cidade histórica de Cachoeira. Assim, em testamento constituiu sua herdeira Universal a Fundação Hansen Bahia (Testamento, 21 jul. 1976), e que esta constituída, o que foi registrado no Cartório do Primeiro Ofício da Comarca de Cachoeira do Estado da Bahia, em 21 de julho de 1976. Também nomeou sua “testamenteira” Noelice Nascimento Costa Pinto, sua ex-aluna
O objetivo da Fundação Hansen Bahia era realizar trabalho educacional, cultural e artístico, que envolvesse as comunidades de seu entorno Carta do deputado Fernando Sant’Anna ao ministro Celso Furtado 29 mai. 1986 ao Ministro da Cultura Celso Furtado. Brasília, 29 mai. 1986). Também era desejo de Hansen e Ilse a construir uma escola de 1º Grau, que integrasse a comunidade ao trabalho. (A TARDE, 8 jun. 1986, p.2).
O acervo da FHB foi aberto ao público em 1978, depois do falecimento de Hansen, tendo Ilse como herdeira e “guardiã” até 1982, quando ela veio a falecer. Noelice Costa Pinto foi diretora executiva da FHB desde a sua criação até o início dos anos 1990. Ela e José Mário são conselheiros vitalícios dessa Fundação, e como previsto no Estatuto poderia permanecer no cargo por dez e depois foi renovada a sua gestão com anuência dos conselheiros. Ela assumiu a responsabilidade, lembrando que que como servidora da UFBA, esteve à disposição do município da Cachoeira (Conversa com Davi Rodrigues, 26 mov. 2024). Noelice renunciou a direção executiva da FHB em 1990 e foi substituída por Wanderlina dos Reis Rodrigues, que trabalhava na instituição, artista plástica conhecida como Ziza, até 1993. (Moção de apoio e solidariedade aprovada pela Câmara Municipal da Cachoeira, 30 out. 1995; Parecer /FCEBA,16 no. 1993).
A partir dos anos 1980, foram muitos os enfrentamentos pela administração, a começar pela estrutura do prédio, onde funcionava a FHB, em Cachoeira, que se encontrava em situação precária e pela própria manutenção Noelice e José Mário escreveram um texto intitulado “Fundação Hansen Bahia (Casa dos Hansen – Museu Hansen Bahia)” (1986?), mencionando muitos colaboradores, no qual o casal explica a sua luta junto ao Poder Público, solicitando atenção para a FHB, entidade sem fins lucrativos. Almejava que fosse restaurado o prédio sede, na época, a fim de garantir além de oficinas e exposições de arte, literatura de cordel, biblioteca, teatro de arena. Havia também o projeto de olaria e casa de farinha na Casa Santa Bárbara (São Félix). Segundo o documento foram muitas as tentativas durante o Governo Sarney (mar. 1985 – mar. 1990) para tal, tendo procurado a Assessoria da Presidência, o Ministério da Cultura e a Embaixada da Alemanha (Texto, 1986?),
Yolanda Pires presidente as Voluntárias Sociais, primeira dama do governo Valdir Pires (mar. 1987 – mai. 1989), visitou a FHB em 1987, que funcionava mantida apenas com um pequeno recurso de convênio com a Empresa de Turismo e do que era desembolsado pelos mais próximos à instituição. Após essa visita, o secretário de Cultura do Estado José Carlos Capinan tomou ciência da demanda de renovação de convênio da FHB com a Fundação Cultural do Estado da Bahia, há muito interrompida. Em 23 abr. 1987, ocorreu uma reunião da Diretoria da FHB, com o Prefeito de Cachoeira e o Secretário de Cultura do Estado para tratar de interesses da FHB, conforme Ofício do Gabinete do Prefeito à FHB (22 abr. 1987).
Como colunista, Noelice escreveu para o Jornal Tribuna da Bahia (fundado em 1969), defensor de uma imprensa livre, muitas matérias manifestando insatisfação com a falta de apoio público ao setor cultural, em particular, à FHB. No espaço Tribuna do Leitor, na Tribuna da Bahia, de 19 abr. 1994 (data de aniversário de Hansen), uma matéria cobra ao ex-governador da Bahia (1985-1990) não ter cumprido com as promessas de apoio para a instituição.
Dos anos 1990, há um documento de análise da situação da FHB, de Noelice e José Mário enviado ao Conselheiro Carl von Hauenschild, descrevendo a história e o crescimento do patrimônio da FHB com prédios em Cachoeira e São Félix, dificuldades para a sua manutenção, e sugerindo diversas estratégias para a gestão financeira da Fundação e menor dependência do Estado.
Noelice assinou um texto manuscrito por ela datado de 2015, em seu Álbum de gravura Damas da Noite, agradecendo às pessoas que a apoiaram, possibilitando seu crescimento como gravadora: “Devo minha arte na xilogravura ao meu [...] marido, grande amigo real da minha a José Mario Peixoto Costa Pinto, o homem total e ao meu Mestre Hansen Bahia como apoio de sua esposa Ilse Hansen.” (Fotografia de Álbum, cedida pela família).
Assim como é grata a seu mestre Hansen, ela também foi formadora. Coordenou e ministrou cursos e oficinas na Fundação ensinando gravura, o que permitiu que jovens se expressassem e dessem continuidade à gravura, como ocorreu com Davi Rodrigues Casaes (1968), que estudou com ela nos anos 1980, muito ligado ao trabalho desenvolvido na FHB, para a qual trabalhou e colaborou. Davi tem um trabalho sólido, além de ministrar oficinas pelo Recôncavo e exposições em grandes cidades. Assim, a compartilhamento do saber e o interesse pelas trocas culturais entre meios artísticos merecem reverências na trajetória de Noelice, ao lado de sua determinação como gestora.
1975 – Salvador, BA. Individual, na Galeria Cañizares. Escola de Belas Artes (UFBA).
1978 – Guarantiguetá, SP. Individual, no Pátio das Artes.
1983 – São Paulo, SP. Exposição Individual, no Centro Cultural Francisco Matarazzo Sobrinho (SP).
1969 – Salvador, BA. I Exposição Feminina de Artes Plásticas, no foyer do Teatro Castro Alves.
1975 – Salvador, BA. I Feira de Arte Xilogravura da Cooperarte, no ICBA.
1975 – Cachoeira, BA. Exposição de Noelice e Mário Costa Pinto, na Galeria Amanda Costa Pinto, no IPAC.
1979 – Belém, Cachoeira. Coletiva, no Seminário de Belém da Cachoeira.
1979 – Petrópolis.VI Festival de Petrópolis.
1980 – Salvador, BA. Coletiva de Maio, na Galeria Panorama.
1981 – São Félix, BA. Exposição de Noelice e Ilse, no Salão Nobre da Prefeitura de São Félix.
1982 – Salvador, BA. Coletiva, na Galeria Cañizares. Escola de Belas Artes (UFBA).
1983 – São Paulo. Coletiva de Artistas Brasileiros, Centro Cultural Ciccilo Matharazzo e nos bairros da cidade de São Paulo.
A TARDE. Festival de Inverno de Cachoeira. 17 abr. 1976.
A TARDE. Festival de Inverno de Cachoeira, marco da Cultura brasileira. Salvador, 7 ago. 1976.
JORNAL DA BAHIA. Cachoeira. Gravadora agradece ao JBa ajuda em prol da cultura. Salvador, 6 dez. 1976.
BARBOSA, Alexandre Marcos Lourenço. Contando a Arte de Gilberto Gomes. São Paulo: Nova América, 2006.
BRAGG, Marccelus. Evandro de Castro Lima. Disponível em: https://marccelus.com/evandro-de-castro-lima/ Acesso em 01 jun. 2024.
BRITO, Reynivaldo. Artes Visuais A Tarde, 23 mar. 1993.
JORNAL DA BAHIA. I Festival de Inverno reunirá em julho próximo. Salvador, 18 mar. 1975.
JORNAL DA BAHIA. Mostra Feminina no TCA proverá vitalidade das artes plásticas baianas. Salvador, 26 mai. 1969.
JORNAL UNIVERSITÁRIO. Maio movimenta meios artísticos com duas exposições. Salvador, 15 mai. 1969. Vol. II, n. 10.
LARANJEIRA, Antonio José. Festivais. A Tarde. Salvador, 22 mai. 1977.
LIMA, Hanayana Brandão Guimarães Fontes. Instituto Cultural Brasil Alemanha e sua produção simbólica na Bahia: pontos de partida. Trabalho apresentado no XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura - XV ENECULT. Salvador, 2019. Disponível em: http://www.xvenecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-484/112299.pdf
PARAÍSO, Juarez. A Gravura na Bahia. Cultura Visual. Salvador, EBA - UFBA, v. 1, n. 1, p. 09-17, jan./jul. 1998.PINTO, Noelice Nascimento Costa Pinto. Álbum de Xilogravuras. Série Damas da Noite. Salvador, BA: Ateliê Aguiar Costa Pinto, 2019. (Exemplar n.º 042)
PINTO, José Mário Peixoto Costa (Org.). Árvore Genealógica de História: Dois Salvador, BA: Atelier Aguiar Costa Pinto, 2022.
UFBA. Jornal Universitário. Maio movimenta meios artísticos com duas exposições. V. II, n. 10. Salvador, 15 mai. 1969.
Arquivísticas:
ÁLBUM de Xilogravuras de Noelice Costa Pinto. Série Damas da Noite. Salvador, BA: Ateliê Aguiar Costa, 2019.
Carta de Noelice Costa Pinto ao Presidente da República da Alemanha Horst Kohle, via Embaixador da República da Alemanha Prot Von Kunw. Salvador, 18 jun. 2009.
FUNDAÇÃO HANSEN BAHIA. Álbum. Ilse e Hansen-Bahia. Novos Trabalhos. 1973.
Ofício n, 11/84, de Noelice Costa Pinto, Diretora Executiva da Fundação Hansen Bahia à Câmaras de Artes e Patrimônio. Cachoeira, 8 fev. 1984.
Ofício n.61/87, do Prefeito Municipal da Cachoeira a Diretora da Fundação Hansen Bahia. Cachoeira, 22 abr. 1987.
Ofício n. 333/86, do Deputado Fernando Sant'Anna ao Ministro da Cultura Celso Furtado. Brasília 29 mai. 1986.
Depoimentos:
Conversa com Davi Rodrigues em 26 nov. 2024.
Conversas com José Mário Costa Pinto entre 2023 e 2024.
Eletrônicas seguidas dos links:
DAVI RODRIGUES. Dicionário Manuel Querino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/davi-rodrigues-casaes/ Acesso em 18 nov. 2024.
Bibliografia de Noelice
Livros e catálogos:
ÁLBUM de Xilogravuras de Noelice Costa Pinto. Série Damas da Noite. Salvador, BA: Ateliê Aguiar Costa, 2019.
Arquivísticas:
Fotografias de recortes de jornal e documentos cedidos por José Mário Peixoto Costa Pinto (acervo pessoal) a Suzane Pinho Pêpe.
Periódicos:
Matérias no Jornal Tribuna da Bahia publicadas ao longo entre os anos 1980 e 1990, ao longo de nove anos.
Autores(as) do verbete:
D536
Dicionário Manuel Querino de arte na Bahia / Org. Luiz Alberto Ribeiro Freire, Maria Hermínia Oliveira Hernandez. – Salvador: EBA-UFBA, CAHL-UFRB, 2014.
Acesso através de http: www.dicionario.belasartes.ufba.br
ISBN 978-85-8292-018-3
1. Artes – dicionário. 2. Manuel Querino. I. Freire, Luiz Alberto Ribeiro. II. Hernandez, Maria Hermínia Olivera. III. Universidade Federal da Bahia. III. Título
CDU 7.046.3(038)